A mudança nos locais onde os táxis podem pegar passageiros no aeroporto de Congonhas, na zona sul de São Paulo, que completa cinco meses, aumentou o trânsito no entorno no horário de pico, causa queixa de atrasos por parte dos usuários e motiva acusações de favorecimento por parte da Prefeitura a uma empresa particular.
A gestão Bruno Covas (PSDB) decidiu que os dois pontos de táxi do aeroporto, que há 12 anos ficavam no subsolo, abaixo do desembarque, deveriam ir para o andar térreo. Na mudança, a Prefeitura também incluiu um novo ponto, para a Associação Taxistas Prime, na porta de saída do terminal – o primeiro lugar que o passageiro vê ao sair do salão de desembarque.
No subsolo, ficaram aplicativos (como Uber e 99), carros comuns, veículos que vão para o estacionamento e os ônibus.
Para os usuários, as mudanças deixaram o acesso aos veículos mais complicado. No subsolo do aeroporto, os diversos modos de transporte disputam o mesmo espaço. No andar térreo, os táxis (do ponto tradicional, do Rádio Táxi Vermelho e Branco e dos novos pontos) têm de fazer fila dupla enquanto esperam para embarcar os passageiros. E carros que vão para o setor de embarque, que fica no fim de Congonhas, têm de se desvencilhar dessas filas, o que também cria trânsito.
A Associação Taxistas Prime se trata, na verdade, da Fuji Táxi, grupo que atua no mercado há 19 anos e que foi escolhido sem licitação para operar no aeroporto. O Sindicato dos Taxistas Autônomos de São Paulo (SinditaxiSP) entrou na Justiça contra a indicação e acusa a empresa de cobrar uma taxa de R$ 20 mil dos taxistas que querem operar no terminal, além de uma taxa mensal de R$ 500.
Na ação, o sindicato questiona a entrada da empresa no aeroporto sem processo licitatório: o ponto de táxi 606, que atende o aeroporto, é o mais disputado na cidade. Os alvarás só são emitidos mediante sorteios. Nas transferências ilegais de alvarás, a vaga ali supera os R$ 100 mil, a mais cara de São Paulo.
Entretanto, mais do que provocar uma disputa entre os próprios taxistas, as mudanças prejudicaram quem precisa de táxi na saída do aeroporto. Há aumento do trânsito nas ruas do entorno, como no corredor 23 de Maio/Washington Luiz.
A Pesquisa Origem Destino do Metrô, principal mapa sobre os comportamentos das viagens de São Paulo, mostra que é no horário de pico da tarde que há mais desembarques de passageiros em Congonhas. Cerca de 66% dos 12,2 mil passageiros que desembarcam ali diariamente usam táxis ou aplicativos para ir embora. O pico do embarque é na manhã.
Um levantamento feito pela empresa Uber a pedido do jornal O Estado de S. Paulo, com base no monitoramento do GPS de veículos que têm o aplicativo, apontou que das 8h às 10h o trânsito ficou entre 14% e 17% mais lento nos meses de abril e maio deste ano, na comparação com os mesmos meses do ano passado. Das 18h às 20h as médias de velocidade caíram entre 11% e 13% em relação a 2018. A análise mediu as velocidades no corredor da 23 de Maio, entre o Parque do Ibirapuera e o aeroporto.
A Companhia de Engenharia de Tráfego (CET) não tem dados recentes. Um estudo foi feito imediatamente após a mudança e apontou melhora do trânsito nos horários da manhã e piora nos índices da tarde, segundo um gráfico de lentidão obtido pela reportagem.
Na pele
Os dados são sentidos na pele por quem tem de usar o terminal com frequência. “Piorou muito, porque agora os carros ficam parados na fila, e aqui em cima também, para esperar o táxi”, diz o consultor financeiro Felipe Esteves, de 29 anos, usuário frequente do aeroporto, que prefere ir ao terminal aéreo de aplicativo e voltar de táxi, que tem os pontos no setor de desembarque.
“Às vezes, tinha fila quando era lá embaixo. Mas era pouca coisa tranquilo. Agora, enquanto você espera, você vê o táxi vazio lá embaixo. Mas ele tem de esperar outro carro, cheio, preso na fila dupla, passar. E esse carro tem de esperar outro táxi, também na fila dupla, para andar”, diz o executivo de compras André Zaro, de 33 anos.
No subsolo, a espera pelo aplicativo também é complicada. “Olha isso aqui”, diz a advogada Daniela Torres Nunes, de 54 anos, mostrando a tela do celular que indica uma espera de 15 minutos pelo carro. “Eles ficam parados no túnel (que dá acesso ao terminal), sem se mexer. E ficamos aqui”, conta.
O empresário André Oliveira, de 35 anos, diz que é comum os motoristas de aplicativo usarem a saída errada e irem para a parte de cima do aeroporto. “Aí, para dar a volta, você espera meia hora”, diz ele, que mora em Minas Gerais, mas vem a São Paulo semanalmente por causa do trabalho.
Para Prefeitura, houve melhora
A Prefeitura de São Paulo argumenta que as mudanças dos pontos de táxi no aeroporto melhoraram o trânsito no entorno na maior parte do dia, mas diz que “elabora novo estudo para atualizar a situação e segue monitorando a operação em Congonhas para melhorar as áreas de embarque e desembarque de táxis”.
Quanto à permissão de entrada de uma nova empresa de táxi no aeroporto, a gestão Bruno Covas (PSDB) afirmou, por nota, que “está abrindo averiguação para apurar o processo ocorrido em dezembro de 2017”.
O vereador Adilson Amadeu (PTB), parlamentar que tem entre os taxistas sua principal base, defendeu, em um primeiro momento, as mudanças da Prefeitura e disse que elas haviam sido adotadas em conjunto com a Infraero, empresa que administra o aeroporto.
Questionado se defendia então a entrada no aeroporto de uma empresa sem licitação, mudou o tom. “O problema de São Paulo são os aplicativos”, disse. Quando a reportagem insistiu sobre a situação da empresa, afirmou: “Não tinha que ter essa coisa de ponto privativo. No aeroporto, deveria ser ponto livre, para quem quiser”, disse. O jornal O Estado de S. Paulo o acompanhou em visita ao aeroporto, onde ele foi recebido por taxistas que operam carros híbridos e da categoria luxo, que também passaram a poder parar no local.
A ação judicial do SinditaxiSP tramita na 12ª Vara da Fazenda. A suspensão das portarias que trouxeram as mudanças para o aeroporto era um pedido liminar, que não foi acatado. O mérito da ação ainda será julgado. O Ministério Público Estadual acompanha a ação, mas ainda não se manifestou.
O secretário administrativo da Fuji Táxi, Rodrigo Alberto Romero afirmou que a empresa foi escolhida porque já atuava “com as companhia aéreas” do aeroporto e diz que a chegada da associação “quebrou o monopólio” dos pontos de táxi que estavam lá.
Ele admitiu que a associação cobra taxas para taxistas que queiram usar o ponto, dizendo que a receita é usada para pagar “os 30 funcionários” que atuam orientando motoristas. Ele diz que sua percepção é que o embarque de passageiros melhorou com as mudanças e que a ação movida pelo sindicato se deve ao fato de que os antigos taxistas não querem dividir o ponto. |