Embora tenham sofrido com o desabastecimento de combustível nos aeroportos devido à greve de caminhoneiros - situação que levou ao cancelamento de mais de 300 voos entre os dias 24 e 30 de maio -, as companhias aéreas viram um aumento da demanda pelo transporte aéreo de passageiros em maio. Dados prévios divulgados por Azul, Latam Brasil e Gol na última semana mostraram crescimento tanto do tráfego (medido em passageiros-quilômetros pagos transportados, ou RPK), quanto da oferta de assentos (assentos-quilômetros ofertados, ou ASK) em relação a maio de 2017.
"Estou um pouco desapontado, porque o segundo trimestre poderia ter sido muito melhor se não fosse pela greve", avaliou ao Broadcast, serviço de notícias em tempo real do Grupo Estado, o presidente da Azul, John Rodgerson. Conforme dados prévios reportados hoje de manhã, a Azul encerrou maio com uma demanda aérea total 14,0% maior que a vista em igual mês do ano passado. Já a capacidade (ASK) da companhia também cresceu na base anual (+13,5%), levando a um aumento de 0,3 pontos porcentuais (p.p.) na taxa de ocupação das aeronaves, para 80,1%.
Considerando apenas as operações da Azul no mercado doméstico, o tráfego subiu 1,5% entre os períodos, enquanto a oferta avançou 2,6%. Com isso, a taxa de ocupação recuou 0,9 p.p. ante maio de 2017, para 77,1% - se excluído o "efeito greve", a aérea estima que a taxa teria ficado entre 78,5% e 79,0%, ou seja, superior aos 78,0% observados há um ano.
Por atender um maior número de cidades e rotas não servidas por suas concorrentes, a Azul acabou sendo a principal aérea afetada pela paralisação dos caminhoneiros do final de maio. A companhia teve de cancelar 169 de um total de 2.637 voos operados entre 24 e 27 de maio devido à falta de querosene de aviação em aeroportos abastecidos através de caminhões-tanque. Com o aumento dos cancelamentos e não comparecimento por parte dos passageiros - que encontraram dificuldades para se deslocar até os aeroportos -, a aérea também decidiu reduzir 523 voos entre 28 de maio e 3 de junho.
"Acho que muitas pessoas do governo se focaram em Brasília e Congonhas, não deram a mesma atenção e foco a essas cidades pequenas em que operamos. Só tem dois aeroportos do País que têm oleoduto, Galeão e Guarulhos, não somos grandes nesses dois aeroportos. Acho que sofremos um pouco mais que os outros, mas isso é normal... É um fato, quando você opera em 100 cidades e o próximo opera em 50, claro que vamos ser mais impactados", comenta o presidente da Azul.
Apesar do episódio do mês passado, John Rodgerson se diz otimista com a tendência para demanda no País e afirma que a empresa continuará tentando capturar o potencial de expansão do mercado aéreo nacional. "Estamos aumentando capacidade e tem demanda. Ainda acreditamos muito no crescimento do Brasil", comentou.
Embora admita que o cenário atual é um pouco mais "difícil" do que há dois meses, devido à forte desvalorização do câmbio e às incertezas políticas, o executivo reforça que a Azul seguirá ajustando a capacidade de forma a não impactar a demanda. Rodgerson acrescenta ainda que as novas aeronaves da companhia - os A320neo, mais eficientes em consumo de combustível e com mais lugares disponíveis em relação aos jatos da Embraer operados atualmente - ajudarão no plano de aumento de eficiência.
Como consequência dos cancelamentos dos voos e das ações para minimizar os efeitos da greve, a Azul calculou um prejuízo não recorrente de cerca de R$ 50 milhões, que aparecerá nos resultados operacionais do segundo trimestre.
Outra companhia bastante afetada pela greve dos caminhoneiros foi a Latam Brasil, que tem forte presença nos aeroportos de Guarulhos e Brasília. Mas, apesar dos 151 voos domésticos (de um total de 3.422 voos programados) cancelados entre os dias 25 e 30 de maio, os dados operacionais da aérea no Brasil continuaram no terreno positivo em relação a maio de 2017. A demanda de passageiros em voos domésticos subiu 3,3% na comparação anual, enquanto a oferta de assentos cresceu 7,3%, levando a uma queda de 2,9 p.p. da taxa de ocupação, para 75,2%.
Em comunicado ao mercado emitido na semana passada, a Latam Brasil calculou um prejuízo de aproximadamente US$ 13 milhões por causa da greve dos caminhoneiros, considerando todas as medidas para mitigar o impacto a seus passageiros.
Já o balanço final da Gol sobre a greve aponta que foram cancelados apenas 12 de 7.275 voos programados entre os dias 21 e 31 de maio. A empresa atribui esse número ao sucesso de seu plano de contingência operacional, que passou pelo gerenciamento combustível e rotas, abastecimento (tankering) de combustível e 69 pousos técnicos de reabastecimento entre 23 de maio e 31 de maio para evitar cancelamentos de voos.
Na Gol, a demanda aérea total cresceu 0,7% em maio, enquanto a oferta de assentos avançou 0,4% - com isso, a taxa de ocupação subiu 0,2 p.p., atingindo 76,8% no mês. No mercado doméstico, os crescimentos de demanda e oferta foram maiores (2,6% e 1,5%, respectivamente, ante maio de 2017), levando a um aumento de 0,8 p.p. da taxa de ocupação, para 77,7%.
Do lado financeiro, a Gol estimou que a greve e as ações tomadas para controlar seus efeitos tenham tido um impacto de R$ 29 milhões em suas receitas operacionais e tenham gerado R$ 8 milhões de despesas operacionais incrementais.
Os dados consolidados das empresas do setor aéreo para o mês de maio ainda não foram divulgados pela Associação Brasileira de Empresas Aéreas (Abear) e pela Agência Nacional de Aviação Civil (Anac). |