Abuso no ar

Fonte CONUT - 09/08/2019 - 14h00min
Abuso no ar

jornalista e presidente do conselho de administração da PetroRio 5/A

Todos os dias as empresas aéreas bombardeiam o e-mail de milhares de pessoas oferecendo voos pelo Brasil por preços que competem com os dos ônibus, desde que comprem a passagem com 30 dias de antecedência. O empresário que não pode fazer suas reservas com essa antecipação paga muitas vezes mais caro pelo mesmo trecho.
 
Há alguns dias, a Azul Linhas Aéreas tentou cobrar de um empresário R$ 4.113,10, o equivalente a US$ 1.131,56, por uma passagem de ida e volta de Belo Horizonte ao Rio de Janeiro com duração de 35 minutos de voo. Um abuso que ele se recusou a aceitar e acabou tendo de viajar pela empresa Latam, pagando R$ 3.100, pelo mesmo trecho, mas com o direito a um copo de água sem gelo e sem guardanapo.
 
Com o preço acima, um passageiro hoje vai e volta a Miami pela Gol; compra ida e volta de Nova York a Londres pela American Airlines; e vai e volta de São Paulo a Istambul pela empresa turca.
 
A mesma passagem, comprada com um mês de antecedência, partindo de Belo Horizonte para o Rio de Janeiro, custa R$ 150o trecho. O empresário paga 27 vezes mais. Como se vê, estão fazendo
cortesia com o chapéu dos outros. Não é justo nem honesto, e, possivelmente, não é legal.
 
As empresas aéreas sabem que o empresário viaja quando precisa e aumentam o preço porque também sabem que ele não tem alternativa. Essas são as mesmas empresas aéreas que passaram a cobrar o despacho das bagagens sob o argumento de que isso provocaria a diminuição do preço das passagens. Todos sabem que isso não aconteceu. Pelo contrário, o que se viu foi um aumento de mais de 30% nos valores dos bilhetes nacionais nos últimos meses.
 
Recentemente, para desespero dos passageiros das companhias aéreas, essas mesmas empresas começaram a cobrar, impiedosamente, pelas bagagens de mão acima das medidas que elas, autoritariamente, estabeleceram.
 
E mais ainda. Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a média da alta dos preços ao consumidor no período de maio de 2018 a junho de 2019 foi de 4,94%. Mas, em 12 meses, a gasolina subiu 5,60%, e as passagens aéreas, 35,12%.
 
Só resta às empresas que se julgam prejudicadas mergulhar na era digital e montar suas modernas salas de videoconferência que dão a exata impressão de que os grupos que conversam, em cidades ou países distantes, estão no mesmo ambiente. Feito isso, não haverá mais a necessidade dos voos semanais de milhares de empresários em todo o país que se sentem explorados com os preços exorbitantes impostos pelas empresas aéreas.
 
Com o descaso das autoridades e a inércia da Agência Nacional da Aviação Civil (Anac), que a tudo vê e nada faz, as poderosas empresas aéreas vão acabar matando a galinha dos ovos de ouro. Assim, o abuso no ar vai acabar caindo.
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