Fim dos voos comerciais esvazia terminal da Pampulha e ajuda a afundar comércio da região

Fonte CONUT - 09/08/2019 - 11h49min
Fim dos voos comerciais esvazia terminal da Pampulha e ajuda a afundar comércio da região

O relógio marca 15 horas de quinta-feira (25). Balcões de check-in do Aeroporto da Pampulha estão fechados e cadeiras da sala de embarque, vazias. A lanchonete já não funciona e os espaços destinados para lojas estão desocupados. No lugar do barulho das turbinas, silêncio. Um cenário que começou a ser desenhado com a transferência dos voos para Confins, ganhou ares fantasmagóricos após a extinção do programa Voe Minas, em 30 de junho deste ano, e reflete no comércio no entorno do terminal.

 
“O bairro Aeroporto está morto”, lamenta o comerciante José Máximo, dono do bar vizinho de diversas lojas vazias e com placas de “aluga-se”. “O fim dos voos acabou com a região. Nem gente na rua tem”, diz ele.
 
Com capacidade para 2,2 milhões de passageiros por ano, o terminal da Pampulha recebeu menos de 94 mil de janeiro a junho de 2019. Só no último semestre, o prejuízo somou R$ 12,31 milhões. Desde 2015, quando a Azul encerrou as operações na Pampulha, até hoje, o déficit acumulado supera a cifra de R$ 114 milhões.
 
O comércio na vizinhança também está no vermelho. Proprietária de um armarinho e confecção na rua General Aranha, Conceição de Fátima do Carmo cortou custos e demitiu três funcionários. Ainda assim, a conta não fecha. “Isso aqui bombava, principalmente na hora do almoço. Agora, trabalho sozinha e não tenho cliente pra atender. Não tem passageiro, restaram poucos funcionários e o pessoal da Aeronáutica foi embora pra Lagoa Santa. Estamos abandonados”, queixa-se Conceição, que colocou a loja à venda.
 
Portas fechadas
 
“O pior é que o bairro está às moscas, mas tudo continua caro. Só de IPTU pago R$ 4 mil. Não é à toa que as empresas em volta fecharam as portas, como locadoras e transportadoras de cargas”, ressalta.
 
Segundo a Infraero, que administra o Aeroporto da Pampulha, só neste ano 27 empregados do terminal foram desligados ou cedidos através do Programa Especial de Adequação de Efetivo. “Quem ficou não faz quase nada. O dia custa a passar. Dá tristeza no coração ver isso aqui vazio desse jeito”, diz um funcionário, que pediu para não ser identificado.
 
Taxista no ponto em frente ao terminal há 20 anos, Walisson Geraldo viveu os tempos áureos do aeroporto. “Tinha uma fila gigante de táxis porque toda hora tinha avião chegando ou saindo. Agora, leva até quatro horas para aparecer um passageiro”, diz.
 
Colega de profissão de Walisson, Wender Fernandes Alves não se conforma. “Quando a Gol começou a operar a rota para São Paulo, no ano passado, nos deu esperança. Mas o lobby da BH Airport (concessionária do Aeroporto Internacional de Confins) é muito forte. O resultado é esse terminal fantasma, esse elefante branco que dá prejuízo aos cofres públicos. Com isso, a região está praticamente morta”, lamenta. A BH Airport não se posicionou sobre o assunto. 
 
Concessão é esperança para o retorno dos passageiros
 
Impedido de receber voos de grande porte, sem passageiros e com prejuízo astronômico, a esperança para que o Aeroporto da Pampulha volte a decolar vem da notícia de que o governo federal prepara uma dobradinha de concessões, envolvendo o terminal de Belo Horizonte e Confins, administrado pela BH Airport.
 
Atualmente, a concessionária – formada pelo Grupo CCR e pelo Zürich Airport – possui 51% de participação em Confins, enquanto a Infraero detém 49%. A ideia é que essa fatia da estatal e Pampulha sejam leiloados em um único pacote, até o final do ano que vem.
 
Segundo informado pelo ministro da Infraestrutura, Tarcísio de Freitas, em junho deste ano, durante audiência pública no Senado, a intenção é a de que o terminal da Pampulha integre a 7ª Rodada de concessões, que deve ter início em 2020 com o Processo de Manifestação de Interesse para realização dos Estudos de Viabilidade. Procurado, o ministério apenas ratificou a informação.
 
Em nota, a Infraero informou que a estrutura da Pampulha dispõe de uma pista com 2.364x45m, pátio com posições para até oito aeronaves e equipamentos de auxílio à navegação aérea em caso de mau tempo ou baixa visibilidade. “A Infraero está avaliando as possibilidades de melhor aproveitamento da estrutura do aeroporto”, disse.
 
Desde 2006, o aeroporto só pode receber voos comerciais com aviões de até 70 passageiros. Na época, a medida foi tomada visando a transferência de voos para Confins. A partir daí, Pampulha ficou limitada às rotas regionais. No entanto, em março de 2015, a Azul suspendeu a operação no terminal. Foi então que começou uma série de discussões sobre a volta dos aviões de grande porte. A Gol chegou a implantar uma rota para São Paulo, com escala em Juiz de Fora, mas diante das incertezas as atividades foram suspensas.
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