Ele não é super-homem, mas vive nos céus e tamanha responsabilidade de conduzir um meio de transporte pelos ares o converte em uma espécie de herói ou heroína de muita criança, que acaba vislumbrando o sonho de pilotar uma aeronave. Algumas, quando crescem, direcionam a carreira para isso, como ocorreu com o copiloto de Boeing 767, Pablo Juliano Lourenço, 37 anos.
Natural de Assis-SP, graduado em Administração de Empresas com ênfase em comércio exterior pela FEMA (Fundação Educacional do Município de Assis), há duas décadas o copiloto de Boeing 767, Pablo Juliano Lourenço, 37 anos, fez do sonho a sua profissão. "A aviação, como quase para todas as crianças, começou basicamente com o fascínio pelas aeronaves em si, passa pelo desejo de ser astronauta, e segue conforme a idade avança pela busca por maiores informações. Eu não sei o que despertou em mim o desejo de ser piloto, mas tenho isso desde muito pequeno, vem dos primeiros desenhos da antiga pré-escola", recorda.
Lourenço conta que a preparação para tornar o sonho em realidade começou aos 17 anos de idade, quando descobriu que a partir dos 16 já era possível realizar o curso de PP (Piloto Privado), que ele fez no Aeroclube de Assis. "Dentro da aviação comercial, entende-se, de linha aérea, brincamos que o tamanho da aeronave cresce ao longo da sua carreira, mas todo aviador, seja ele da comercial, executiva ou agrícola, inicia sua carreira com os treinadores básicos, que são aviões monomotores, geralmente os CAP-4 (Paulistinhas) ou AB-115 (Aero Boeros)", explica.
Do curso teórico e prático de piloto privado, todo aviador que deseja seguir a carreira precisa realizar o curso teórico e prático de Piloto Comercial. Lourenço realizou o cursos no Aeroclube de Londrina que, por ano, forma mais de 400 pilotos e é uma referência em todo o país. Foi no Aeroclube de Londrina que o ex-comandante Waldemir de Oliveira, ou Neno Oliveira, deu os primeiros passos na profissão. Entre outros feitos profissionais, Neno comandou o jatinho do então piloto de Fórmula 1 Ayrton Senna, entre 1989 e 1991. "O básico exigido pela ANAC (Agência Nacional de Aviação Comercial) para conseguir a habilitação de piloto comercial são 140 horas de voo, incluindo as 40 como PP, cuja habilitação é de desporto. Leva-se entre 5 a 6 meses entre a parte teórica e prática", informa animado o futuro piloto e diretor comercial do Aeroclube de Londrina, Bernardo Costa Mendes, 21 anos. A partir disso, das 140 horas, o piloto é introduzido ao voo por instrumento, ou seja, sem referências visuais, e pode realizar o voo em aeronaves com mais de um motor, conhecido como habilitação multimotor. "Após a conclusão deste curso, o aviador está apto a ser remunerado por exercer a profissão, seja na aviação executiva, geralmente iniciando como copiloto em alguma aeronave particular, por exemplo, de donos de empresas a até algumas empresas de táxi-aéreo. Não necessariamente o avião crescerá em tamanho físico, mas em complexidade de instrumentos", orienta Lourenço.
Outro caminho possível para Londrina e região é a faculdade de Ciências Aeronáuticas, curso superior que engloba toda a formação básica e profissional de um piloto, bem como abrange o universo da aviação moderna. "Para pleitear uma vaga de piloto em uma empresa aérea, o aviador necessita basicamente de experiência, ou seja, centenas ou em alguns casos, milhares de horas de voo, dependendo da forma da seleção que a empresa em questão empregará. No meu caso, quando entrei em 2007, eram obrigatórios mais de 1500 horas de voo, o que levei sete anos como piloto executivo para realizar. Mas, recentemente, esses valores foram reduzidos para todos aqueles que possuíam alguma formação superior", conta Lourenço.
Na visão dele, um aspecto importante de se ter em mente para quem quer seguir carreira em uma companhia aérea é o fato da gestão de uma aeronave de determinada linha abranger várias habilidades além da pilotagem em si. "Engloba uma gama de conhecimentos de Administração, Direito, liderança e, por isso, ter algum curso superior, em qualquer área do conhecimento, de humanas a exatas, não é mais um diferencial, mas sim uma obrigação, tal qual, o conhecimento do idioma inglês, que também é indispensável", ressalta.
Mercado de trabalho
"Indiscutivelmente a aviação sentiu o impacto da crise político-financeira, em especial, a aviação executiva, pois muitas empresas em momentos de crise, abrem mão do conforto de uma aeronave, em favorecimento justo da manutenção dos seus negócios, mas o Brasil, é um dos poucos países com dimensões continentais que ainda tem uma demanda não atendida na aviação comercial, e por isso, com os devidos ajustes de malhas e rotas, a aviação de linha aérea sentiu menos esse impacto e está mais apta para crescer assim que os indicadores macroeconômicos brasileiro melhorarem", avalia Lourenço. Outro aspecto que passou a interferir positivamente no mercado de trabalho de pilotos e de toda a tripulação (comissários e mecânicos de voo) foi a alteração na legislação que regulamenta a profissão e, basicamente, alterou a jornada de trabalho, aumentando o regime de folgas. "Com a nova Lei do Aeronauta (13475/17), os profissionais passaram de oito para 10 folgas mensais e, para estarem em conformidade com a lei, as companhias aéreas tiveram que aumentar seus quadros", aponta Mendes.
Voando em outra direção
Pilotos, sim, mas com propósitos profissionais e pessoas que não cabem em uma única profissão. O piloto agrícola Eduardo Romero, 27 anos, e a empresária e multi pilota (possui praticamente todas as habilitações possíveis de caminhão a avião e agora quer pilotar a aeronave anfíbio, que pousa na água), Vânia Kosan, 51 anos, dividem em comum a paixão por voar, embora ambos tenham uma versatilidade na vida e na geração de renda ultrapassa qualquer plano de voo. Romero trabalha profissionalmente como piloto agrícola há quatro anos. O gosto por esse caminho na carreira se deu por duas razões. "É o mais acrobático e emocionante de todos e pela possibilidade de trabalhar por safra, tendo outro período livre para empreender". Na parte empreendedora, o piloto agrícola se divide entre o canal Tudo Nivelado, no Youtube (https://www.youtube.com/watch?v=BjAO9rNI3w4), com 21 mil inscritos, a loja virtual de bonés e camisetas com tema de aviação e na atividade de operador financeiro de Dólar Futuro. "É fascinante voar, mas no futuro quero fazer da operação com Dólar Futuro minha primeira fonte de renda".
A empresária Vânia, por sua vez, tem no "hobby" de voar uma grande paixão que está em vias de ser mais uma fonte de renda pelo desejo dela e do marido de multiplicar o acesso à formação para esse tipo de habilitação, que autoriza pilotar aeronaves anfíbios. "Desde que perdi meu pai na infância e não consegui ir ao circo porque ninguém podia me levar, decidi ter todas as habilitações possíveis, caminhão, ônibus, moto para nunca depender de alguém me conduzindo. Nisso, aos 40 anos, eu e meu marido começamos a fazer o curso e nos apaixonamos por voar, pois você sente a presença de Deus conduzindo uma aeronave em um pôr-do-sol. Meu próximo desafio é conseguir a habilitação anfíbio", resume. |